quarta-feira, 31 de março de 2010

Visualizar impressão.

Minha mãe pede que lhe imprima alguns sites de pedagogia para facilitar sua leitura. As entradas na Wikipédia tem suas versões para impressão. Um site, contudo, possui dezenas de links, cada um com imagens e textos únicos. Tento lhe explicar o trabalho e a futilidade de imprimir cada link numa folha de papel por vez. Ela gagueja, balbucia e eu noto o choque de gerações em seu olhar. Rogo-lhe: Mãe, a verdade é que a internet não foi feita para ser impressa.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Stranded.

Como outros, eu acreditei,
eu engoli e eu confiei.
Como outros, eu segui e calei,
e, como outros, eu esperei.
Como outros, eu obedeci, paguei, ordenei e censurei.
Mas os outros se foram
e eu
fiquei.

O Plano.

Havia um plano.
De ser enterrado e morrer,
de ter filhos e se casar,
de sair de casa e arrumar um emprego,
de ir a faculdade e ir ao colégio,
de brincar e nascer.

Mas o plano mudou.

Interrompido.

Minha alma não cresce:
permanece.

terça-feira, 23 de março de 2010

Modificações.

Mudei alguns posts. Aqui vai uma lista do que fiz.

01. Um guia. Modifiquei-lhe um pouco as palavras para apertar o nó do texto. Não mudei o conteúdo.

02. Das inutilidades. Troquei-lhe o título: Chekhov's Gun. Embora possua muitos adjetivos, o estilo excêntrico da postagem condiz com o espírito de largada do blog. Tentei salvar o sentido do texto, escondido entre os pontos de exclamação e os qualificadores, adicionando a famosa epígrafe do autor russo.

03. O propósito. Mudei-lhe a estrutura, para dar o paralelismo que faltava a postagem. Troquei um adjetivo do lugar onde estava para o lugar onde deveria estar. Também coloquei tudo num único parágrafo. E tirei o artigo definido do título.

04. Nenhures. Ao invés de repetir a palavra título pelo texto, deixei-a no começo e deixei o verbo no presente, como um apelo, criar o tom de desespero e isolamento. Aumentei a rapidez da postagem e diminuí-lhe o tamanho, o que é sempre preferível.

05. A ética de meus pais. Título horrível. Mudei para Minha família. Mais simples, logo melhor. Muita pontuação. Muito vago. Menos dois-pontos. Dividi-o em três parágrafos para mostrar meus pais como opostos e conseguir um efeito de solidão no último parágrafo.

Por ora, é isso.

I want to break free (ii).

Minha mãe possui um alarme sonoro em seu carro, uma trava na direção e um botão que deve ser pressionado para o carro dar a partida.

I want to break free (i).

Nosso prédio tem três portões: um que dá acesso ao estacionamento e deve ser aberto por controle remoto; um que dá acesso à escada e deve ser aberto por chave e um que dá acesso ao apartamento e também necessita de chave para abrir. Neste último, há três fechaduras: uma embaixo da outra, cada uma com um devido cadeado. Nossa porta principal fica sempre fechada. Usamos a da cozinha para entrar. Esta possui uma fechadura na parte do meio, a qual não aceita mais chave, logo não funciona mais, e, na parte de cima, uma lingueta, nossa única fonte de segurança à noite.

Casting de livros (ii).

A conselho antigo, também ignoro qualquer descrição que não condizer com minha imagem da personagem.

Lembro-me de engordar certa personagem quando o livro especificamente descrevia-a magra. De outra feita, era uma fulana que fugia. Escondia seu rosto com um capuz. Recusei-me: pus-lhe um boné na cabeça.

Casting de livros (i).

Minha imaginação tem problemas para construir personagens a partir da descrição de autores. Ao invés disso, para cada uma, seleciono um ator e realizo uma audition mental.

Na trilogia da Fundação, para o papel de Hari Seldon, o psico-historiador que prevê a queda do Império Galático, coloquei Max Von Sydow, mas não o Max Von Sydow velho da Ilha do Medo; nem o novo em O Sétimo Selo. Não. Meu Max Von Sydow é o velho abatido e esperaçoso de Pelle.

É um regra que nem sempre obedeço. Muitas personagens são fragmentos de atores. Meu Mulo, o conquistador mutante da mesma trilogia, é uma figura cartunesca vestida de palhaço. Na minha cabeça, ele é um pouco Randall, a lagartixa roxa e escorregadia de Monstros S.A. Homir Munn, um coadjuvante da saga, é um bibliotecário nervoso: dei-lhe os óculos e o nariz de Woody Allen, mas não a persona neurótica do comediante.

A protagonista Arkady Darrel é uma criança de catorze anos. Escolhi Dakota Fanning - quando mais nova, não a espichada de agora - mas não estou satisfeito. Tentei-a morena. Não melhorou. Tentarei Ellen Page quando retornar à leitura.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Já dizia o Filósofo (ii).

Agora só as virgens!

Já dizia o Filósofo.

Grito ao mundo inteiro:
- Não quero dinheiro! Eu só quero amar!

Marina e Júlia.

Minha prima tem duas filhas, Mamá e Juju. Uma mais velha, outra mais nova. Juju é simpática e sorridente; Mamá é séria e sorumbática. As duas visitam minha mãe de quando em quando. Neste momento, ambas correm pela minha sala de estar. Muito felizes.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Jovem pássaro.

Sonhei que eu e meus primos voávamos. Uma pequena corrida, um salto e lá se íamos, ascendendo. Eles subiam com facilidade, mas eu, como um jovem pássaro que ainda está aprendendo, não conseguia dar mais do que grandes saltos.

Quando eu vou deixar de ser um jovem pássaro e alçar vôo?

Os símbolos do Homem.

Carl Jung tinha um médico por paciente. De certa feita, perguntou-lhe como se sentia. Respondeu que passara uma excelente noite desinfetando o céu inteiro com cloreto de mercúrio, mas que durante todo este processo sanitário não encontrara o menor traço de Deus.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Rotina.

Acorda, come, escova, banha, desce, entra, liga, dirige, espera, dirige, espera, dirige, chega, conversa, observa, ri, despede, dirige, espera, dirige, espera, dirige, chega, desliga, sobe, come, escova, liga, dorme, acorda, vive, espera, vive, espera. Esmaece.

Timidez (iv).

Outro grande tímido: Harlan Ellison.

Timidez (iii).

Se o verdadeiro tímido e o suicida são tão parecidos em ocultar seus corações, em que são diferentes? Ambos experimentam uma ausência deste mundo: o verdadeiro tímido sente-a quando todos os olhos estão voltados para ele - logo, nenhum olhar está voltado para ele; assim seu coração está a salvo. O suicida sente esta ausência dentro de si: ele é um alguém que não está lá.

Timidez (ii).

Um grande tímido: Peter Sellers. A atuação, com as luzes, as cortinas e as personagens, faz um grande esconderijo para os verdadeiros tímidos.

Timidez.

A timidez, na verdade, é a máscara do maníaco por atenção e o spotlight é o grande esconderijo do verdadeiro tímido. Ele, como o verdadeiro suicida, nunca revela sua timidez. Os maiores tímidos, aqueles cujo coração permanece para sempre camuflado, são os que estão sempre em vista.

Liberdade.

Liberdade é o direito inalienável que todo ser humano tem de desistir enquanto é tempo.