sábado, 25 de junho de 2011

Os Doces de Melinha.

Melinha gostava do novo carteiro, Seu Vasconcelos, mas não o conhecia. Quando a campainha tocava, ela largava suas bonecas no tapete da sala e corría para o quarto. Sua mãe odiava. "Amélia, olha a correria dentro de casa!" Melinha queria observar Seu Vasconcelos pela janela. Gostava de vê-lo ir embora na bicicleta azul-marinho (que nem a sua, só que maior.) Seu Vasconcelos tinha ombros largos e olheiras nos olhos. Nunca se falaram, ele e Melinha, mas ela gostava do mistério e o confundia com amor.
     Numa tarde de domingo, a mãe de Melinha estava cozinhando doces. Melinha pegou dois. Um para si; o outro, de presente para Seu Vasconcelos. No jardim, debaixo da árvore, ela esperou com suas bonecas.
     Mas, quando chegou, Seu Vasconcelos, que estava atrasado, não passou na casa dela. Ficou pela vizinha desquitada, Dona Zuleica, que o recebeu com um cigarro e uma mão naqueles ombros largos. Permaneceu a tarde inteira lá, até Melinha vê-lo ir embora na bicicleta azul-marinho. O carteiro não percebeu Melinha, escondida que estava na sombra da árvore. Chorava baixinho. Ela gostava do mistério e o confundia com amor. Às mordidelas, consolova-se com os doces.

2 Comentários:

Blogger guh disse...

hee, muito bom, mesmo.

29 de junho de 2011 às 22:36  
Blogger Caio Marinho disse...

Agradecido, guh.

1 de julho de 2011 às 01:06  

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