segunda-feira, 21 de março de 2011

Enamorados.

Oh! To be in love,
And never get out again.
(Kate Bush, Oh To Be In Love)
Eles prometeram se amar até o fim do mundo.
- Para sempre?
- Para sempre.
O tempo passou e o amor dele só cresceu. De fato, ficou enorme como um incêndio. E ela, que tinha corpo de vela, foi consumida até restar apenas o toco. Temendo desaparecer de amor, confrontou-o sobre a obsessão. Recomendou parcimônia, quartos separados, poligamia. Até casamento, esperando que a oficialização de Deus e da rotina contivessem seu interesse assassino. Mas era tarde. Esmaeceu até sumir. Restaram duas ou três fotografias, alguns trocados perdidos e o amor infinito que ele sentia.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Mapa.

Finalmente, encontrei o mapa. Estava perdido no armário do meu avô, debaixo de algumas coisas velhas, rabiscado em folha de caderno. Vovô roubou o tesouro de franceses ricos no Congo. Conseguiu escapar num navio, depois num barco, depois num caminhão fretado. Refugiou-se no Mato Grosso, escondeu o tesouro por lá. Agora, com o mapa, eu vou finalmente poder fazer aquela viagem pro Pantanal.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ode a Fortaleza.

No ombro do Brasil,
se encontra Fortaleza:
Por fora, é encantos mil,
por dentro, triste beleza.

Refugia-se na praia,
se esconde do sertão.
Os de fora, na gandaia,
os de dentro, na Depressão.

Toda empiriquitada,
repleta de afetação.
Não tem culpa, pobre coitada,
de ser feita de algodão.

Nem tua poesia se salva:
Rima pobre, pé quebrado.
A areia da praia é alva
e o poeta, encarcerado.

Aqui tem Shopping Iguatemi,
Essa é a nossa sina.
Quanta bobagem, meu deus!
Foda-se a métrica e a rima!

quarta-feira, 9 de março de 2011

The King James Bible.

Baixei a versão King James da Bíblia em PDF. Coloquei na pasta de poesia.

terça-feira, 8 de março de 2011

A Cidade.

Saí para almoçar. Não havia ninguém na rua. Poucos carros. Tempo nublado. Tudo fechado. A Cidade, deserta pelo Carnaval. Ela é a parte de nós que vemos todo dia. É o nosso espelho. É de onde queremos escapar, a Cidade.

Da beleza de viver, por Dorothy Parker.

Resumé

Razors pain you;
River are damp;
Acids stain you;
And drugs cause cramp.
Guns aren't lawful;
Nooses give;
Gas smells awful;
You might as well live.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Pega-pega.

Maria amava João,
Mas foi embora pras Bahamas.

João acabou sem cabeça,
corpo
e membros.

Carregou o resto que tinha até a lavanderia
e deixou de molho para o ano que vem.

Enquanto esperava,
João pensou:
"Dessa vida, nada se leva,
tudo vai ficando."

E Maria, nas bahamas sem João,
acabou sobrando.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A thing for cow.

Em Meninos Não Choram, há uma cena em que Lana Tisdel (Chloë Sevigny) leva Brandon Tenna (Hillary Swank) ao seu quarto, que está todo decorado com vacas. Brandon pergunta com os olhos o porquê do tema, e Lana responde "Yeah, I got a thing for cow."

Minha mãe decorou nossa casa com pequenos enfeites de elefantes. Perguntei certa vez o porquê deles. E ela, como Lana no filme, simplesmente respondeu: "Porque eu gosto de elefantes."

Síndrome de Estocolmo.

Pensando em mudar de ares, levo meu laptop para cozinha. Minha mãe se sente mal, me pede um chá. Esquento a água. Faço duas xícaras, e levo uma para ela. A outra, tomo enquanto leio. Mas minha leitura é interrompida pelo aviso de "bateria fraca" no canto da tela. Prisioneiro, retorno ao meu quarto, refém da energia.

terça-feira, 1 de março de 2011

Pirlo dos Santos, em nova publicação.

Poeta esquecido, Pirlo dos Santos está sendo editado em nova coletânea pela Martins Fontes. Ao seu único exemplar publicado em vida, Notas de uma Escuridão Nascente, são acrescentadas duas obras póstumas: Carrega Meu Sangue, Nobre Cavaleiro e Onde Estou, Estarei. Também há ali sua correspondência com Mário de Andrade. Uns versos, para quem não conhece:

a vida é isso,
é lenta assimilação:
muitos quereres,
grandes paixões,
pouco dinheiro,
e uns finais de semana.
em grande parte, pequena,
cabe numa lembrança.
de pouco em pouco, grande,
dura uma vida inteira.
a vida, enfim, é isso aí.
acontece sem parar.