domingo, 27 de fevereiro de 2011

Domingo, dia mole.

Primeiro dia da semana. Parece o último, o segundo do final dela: Domingo. Dia mole, sem energia, frouxo, que demora a acabar. O dia, enfim, que precede a segunda.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"Talvez eu tivesse sido um romancista sério. Ou talvez não. Mas é tarde demais, e agora eu fico feliz só de não ter artrite."
Woody Allen, numa entrevista para a Paris Review em 1985.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Seu João da Padaria.

Seu João, velho nobre e expansivo, possuía mulher e padaria. Acordava cedo, penteava o bigode e abria o comércio. À noite, fazia a contabilidade, trancava o negócio e ia-se. Terça e quinta, saía mais cedo, passava na casa da amante, assistia o jornal e a novela.

Certa terça, Seu João adormeceu na casa da amante. Só foi acordar no final da novela. A amante, mulher corpulenta, contabilista, estava estirada no tapete da sala. Sangue. De pé, na cozinha, Dona Maria Joaquina, esposa. Mulher frágil, de tacanhas maneiras. O marido gaguejou uma explicação. Dona Maria ouviu séria, sem olhá-lo. Respirava forte, lábios hirtos. Seu João perguntava das consequências, enxugava o bigode. Dona Maria, cansada, saiu pela porta da frente e foi embora.

Seu João pensou em ir atrás dela, pensou em chamar a polícia, pensou no escândalo, pensou na padaria. Decidiu ir o quanto antes para casa, mas primeiro passou no banheiro da morta e pegou sua escova de dentes e o pentezinho do bigode.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


O escritor é alguém normal, como eu ou você: toma café com pão e gosta de ler uma revista de quando em vez. O escritor, ao contrário do que se poderia pensar, não é um bicho de sete cabeças; não há nenhuma criatura mirabolante, de capa-e-espada, por detrás das palavras.

O escritor, quem diria, é normal, como eu ou você.

(Via michellaub.)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Fica a dica.

Quando não há mais perguntas,
na falta de alternativas,
o jeito é esconder
tudo outra vez.

Forster e o Amor.

Quanto tempo se precisa para o amor? Esta pergunta soa rude, mas é importante para nossa investigação presente. Dormir leva cerca de oito horas das vinte e quatro, comida cerca de mais duas. Para o amor, ficam então duas mais? Certamente esta é uma generosa concessão. O amor pode se imiscuir em nossas outras atividades, como também o podem a sonolência e a fome. O amor pode começar várias atividades secundárias: por exemplo, o amor de um homem pela sua família pode causá-lo a passar um bom bocado de tempo na Bolsa de Valores, ou seu amor por Deus um bom bocado de tempo na igreja. Mas que ele tenha comunhão emocional com qualquer objeto amado por mais de duas horas por dia pode ser seriamente duvidado, e é esta comunhão emocional, este desejo de dar e de receber, esta mistura de generosidade e expectativa que distingue o amor das outras experiências em nossa lista.¹
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¹ FORSTER, E.M., Aspects of the Novel, 1927.